domingo, 13 de maio de 2012

A Enorme Fera de Pedra




A lenda refere-se a um gigante nômade que vivia há muito, muito tempo na ilha...

Provavelmente ele já esculpia no mundo sua história, poucos séculos depois da última erupção do Maunga Terevaka.

História triste, impulsionada pela fé e saudade.

Saudade do seu irmão.

.

Nas mãos, ferramentas. Nas pedras, bustos e corpos entalhados.

Suor e determinação. O gigante não parava. Esculpia sem parar a mesma figura com pequenas mudanças. Dia e noite, podia ser visto sozinho entre monolitos enormes, dando forma sempre às mesmas figuras, ao mesmo rosto.

Loucura?...

Os nativos sabiam sua história.

Diziam que ele buscava a forma exata do rosto de seu irmão, que ainda jovem fora devorado por um cão enorme, enquanto dormiam.

Diziam também que as esculturas repetitivas do gigante eram apenas a sua esperança cega de que, em uma noite de tempestade, sob um relâmpago divino, a estátua ganhasse vida e  fizesse companhia a ele.

Sonhava apenas com um raio...

Só se ouvia o barulho seco de suas ferramentas nas rochas, mais nada.

...
..
.

Em relação à sua mais fascinante criação,
a distinta,
foi justamente em um dos maiores temporais já vistos...

Era noite.

Na costa, o mar ameaçava despencar sobre a terra. Água escura, espumas altíssimas flutuavam imponentes no pretume gélido. Aliás, as duas palavras que traduziam a ilha naquela noite eram: frio e medo. Os raios furavam o chão, incandesciam a noite com ira supranatural. Vento, chuva, muita chuva. Era um cenário inóspito em que o movimento grosseiro contrastava com o vazio. Nenhuma criatura viva ousava se exibir em tal cenário. Nenhuma, com exceção do gigante. Revolta. Entre lágrimas e velozes gotas d’água, as mãos duras do gigante tentavam dessa vez libertar da pedra o destemido cão que o aprisionou no isolamento eterno.

A tristeza em seu peito era mais fria que o vento.

Vento forte que abafava o barulho de seus golpes no monolito.

Os raios interrompiam o barulho.

Trovões e raios.

Lágrimas.

Golpes.

Dentre o barulho da chuva e do relâmpago, um som irrompeu. Foi como se uma rocha do tamanho da lua se chocasse extremamente forte com outra igual. Uma batida alta e grave.

Um raio.

O tão esperado raio.

Silêncio.
...
..
.
Enfim um sopro de vida...

O gigante olhou para cima,


Em poucos instantes teria a paz almejada.





Fiz o esboço pequeno a nanquim, depois colori e ajustei no Photoshop.
(ainda dá para ver um pouco do preto da caneta nanquim)

terça-feira, 8 de maio de 2012

O Fantástico Pé de Feijão (The Fantastic Beanstalk)


(Técnica: nanquim e Photoshop)

(Technic: ink and Photoshop)



Breve postarei o making of.

Soon I'll be posting the making of


terça-feira, 1 de maio de 2012

O Ímpar (The One)

Ela se foi. 

Só depois o herói conseguiu enxergar as coisas como realmente eram...

O silêncio, em sua caverna, serviu para ele como um sermão. Um sermão que nunca em sua vida dura se preparou para ouvir. Viveu ocupado demais. Ora protegendo vilas de criaturas diabrescas, ora colhendo flores raras, em reinos distantes, para sua amada. Construiu nome em batalhas. Honra sobre sangue e lágrimas. Suas feridas se sobrepunham umas às outras. Não havia tempo para cicatrização. Os anos voavam em suas viagens. As guerras deformavam seu corpo.  Sua pele virara uma massa dura, com uma textura asquerosa. Os pelos caíram. Fogo, sal, ferro. Mudava por fora, para manter por dentro o mesmo objetivo:
Voltar para casa e presentear sua princesa de olhos azuis com ouros, joias e as flores mais raras que pudesse encontrar.

 Flores...

Ela tinha um fascínio inexplicável por elas. Pelo menos antigamente...
...

O amor é ilógico.

O corpo humano tem mecanismos involuntários que reagem, instantaneamente, afastando-se de qualquer coisa que possa ameaçá-lo. Reage assim quando submetido a objetos quentes, cortantes, enfim. Ele funciona como uma bússola perfeita para a sobrevivência. O corpo todo, exceto o coração. Sentimos ciúmes, sangramos por dentro e, ao invés de nos afastarmos do que machuca, nos aproximamos mais. Sufocamos e nos sufocamos. Outra prova da ilógica sentimental está na solidão. Por que, quando estamos agonizando por dentro, nos sentindo sozinhos, tendemos a nos isolar ainda mais, nos enterrar mais? Não existe nada dentro de nós que nos aponte uma direção. Muito pelo contrário. 

O coração nos empurra para o caos e a dor sempre.

Aquele homem, naquela situação, fugia do mundo como um verdadeiro eremita. Fazia isso como que submetido a um ato involuntário de seu próprio peito. Queria se isolar. Queria um abraço da noite e somente dela. Não queria ver ninguém. Uma pena não poder se desvencilhar da pior presença. A mais acusadora de todas. 

Estava encurralado naquela caverna de frente para sua própria cara. Cara monstruosa e massuda, revelada por uma delicada poça d’água, iluminada pela luz da lua. 

Mas, o que fizera com ele próprio?...

Sua carne seca não conseguia jorrar lágrimas.  Desejou poder fazer isso. Não conseguiu.
Da caverna podia olhar para o céu. Fez isso. 

No alto, muitas estrelas. Eram como lindos confetes de diamantes congelados no breu. Distantes e frias. O vento alisava a pele seca e insensível do homem. Corpo cansado. Desejava muito conseguir dormir. Infelizmente um dos grandes tormentos do sofredor é a insônia. Já era muito tarde e ele sabia que o sono não vinha por um motivo, sua alma precisava de um destino para viajar. Exausto e triste, ainda insistia em não querer outro lugar que não fosse ao lado de sua amada.

E onde ela estava?...

Seu corpo e alma não cansavam de perguntar.

Olhando para as estrelas, a certeza sádica de que a princesa vivia em algum lugar sob elas doía no peito. 

Se fazia perguntas. Seus olhos distantes enxergavam as histórias mais cruéis que seus sentimentos amargos conseguiam lhe contar. Todas estrelando quem outrora fora sua mulher, em um presente longe dele.

Dor...

Talvez ela não merecesse as joias... 

Talvez não merecesse as flores...

Todos os mimos...

Talvez não merecesse os sonhos e a fé do herói...

Os esforços e as guerras...

Talvez não merecesse nada...

Nada...

...

O que fizera com ele próprio?

Sozinho e bizarro...

Conseguiu chorar. 

Antes, seu sangue por ela. 

Hoje, uma lágrima por ele mesmo.

Chorou mais, deixando difusa a água da poça.

Só depois o herói conseguiu enxergar as coisas como realmente eram.

Ela se foi. 
.
E ponto.

...

Tentou dormir por horas e horas... 

....

O sono não vinha...













(Translation soon)
















 
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